quinta-feira, 19 de julho de 2007

(
A
)
Poeticidade.

Nem imagino – nem me dei ao árduo trabalho – o que define a profundidade poética de um homem. O que o faz um Veríssimo ou um Fernando Pessoa. Também não sei quantos Rubens Fonsecas equivalem a um Tom. Ou o contrário.
Às vezes vou, às vezes volto. Não sei se o caminho é entrar ou sair, em mim ou nos outros.
Mas imagino – sem árduo trabalho – que se Vinícius escreveu o texto que segue sobre uma “mulher que passa”, realizem o que faria se amasse esta mulher como eu o faço.
Pobre deste eu-mesmo, atabalhoado de auto-não-conhecimentos e...,armado de incontável amor e contável poesia. Para quê?

A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me concontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

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